Inteligência emocional não é controlar o que sente, é saber o que fazer com o que sente

Existe uma ideia equivocada, mas muito disseminada, de que ser emocionalmente inteligente é manter-se serena o tempo todo, controlar tudo que sente e evitar demonstrações de emoção. Isso não é inteligência emocional. Isso é repressão emocional — e, na maioria das vezes, só gera mais sofrimento.

Inteligência emocional não é eliminar sentimentos, mas saber reconhecê-los, nomeá-los e decidir conscientemente o que fazer com eles. É a habilidade de sentir com profundidade e, ainda assim, escolher a resposta mais alinhada com os próprios valores. Não é ser fria. É ser madura.

Uma mulher emocionalmente inteligente não é aquela que não sente raiva. É aquela que reconhece a raiva, entende o que a causou e decide se vai respirar, se afastar, ou se posicionar. Ela não nega a emoção — ela se torna dona da própria resposta. E isso muda tudo.

A base da inteligência emocional é o autoconhecimento. Ninguém lida bem com o que não conhece. Se uma mulher não sabe nomear o que sente, como vai lidar com isso? Se não sabe de onde vêm os seus gatilhos, vai acabar sempre reagindo da mesma forma — mesmo que isso a machuque ou afaste quem ama.

O primeiro passo, então, é desenvolver um vocabulário emocional. É sair do raso do “tô bem” ou “tô mal” e aprofundar: “sinto frustração porque minhas expectativas não foram atendidas”, “estou ansiosa porque não sei como serei recebida”, “sinto tristeza porque fui ignorada em algo que é importante para mim.” Quando a emoção é nomeada, ela deixa de comandar. Ela passa a ser compreendida.

O segundo passo é a autorregulação. E aqui está a grande diferença entre controle e inteligência. Controlar é reprimir. É colocar tudo para dentro, fingir que não está sentindo. Autorregular é reconhecer que a emoção está ali e encontrar formas saudáveis de lidar com ela. Pode ser através da escrita, da fala, da respiração, da meditação, da arte, do movimento físico. Cada mulher encontra seus canais.

E por que isso é tão importante? Porque a emoção não desaparece só porque foi ignorada. Ela se acumula. E, quando não é ouvida, grita. A ansiedade é muitas vezes uma emoção represada. A somatização, também. O corpo sente o que a mente finge não perceber. E quando não há espaço seguro para sentir, o corpo paga o preço.

Por isso, ambientes que acolhem emoções são tão curativos. Uma relação em que se pode dizer: “hoje estou insegura” sem ser julgada já é, por si só, um espaço terapêutico. Mas mesmo que isso ainda não exista fora, pode ser construído dentro. A mulher emocionalmente inteligente é aquela que se torna um porto seguro para si mesma. Que acolhe suas emoções com curiosidade, e não com julgamento.

Além disso, inteligência emocional também é empatia. É a capacidade de perceber o que o outro sente, mesmo que não esteja dizendo. É saber que às vezes uma crítica esconde medo. Que um silêncio esconde dor. Que uma agressividade esconde vulnerabilidade. Isso não significa aceitar tudo. Significa enxergar além da superfície — e escolher o que fazer com isso.

E isso nos leva à ação. Porque sentir não basta. Saber o que fazer com o que se sente é o que realmente transforma. Às vezes, será preciso conversar. Outras, se afastar. Em outros momentos, será necessário apenas respirar e deixar passar. Mas todas essas escolhas precisam vir de um lugar de consciência — e não de impulsividade.

A mulher que desenvolve inteligência emocional se torna mais livre. Porque não depende do comportamento do outro para se regular. Porque não vive à mercê dos gatilhos. Porque consegue sustentar uma conversa difícil sem explodir, tomar uma decisão sem se desesperar, manter-se fiel a si mesma mesmo quando tudo à volta parece caos.

E isso é treino. Ninguém nasce sabendo. A infância não ensinou isso. A sociedade também não. O que se aprende é a esconder, a engolir, a fingir. Por isso, o processo de desenvolver inteligência emocional é também um processo de desaprender. De desmontar o que não serve mais. De reconstruir a relação com as próprias emoções.

E esse processo é profundamente libertador. Porque quanto mais uma mulher conhece suas emoções, menos medo ela tem delas. E quanto menos medo, mais liberdade. Mais clareza. Mais força.

Não é à toa que as pessoas emocionalmente inteligentes têm relacionamentos mais saudáveis, mais assertividade profissional, mais autoconfiança. Elas não são perfeitas. Elas são presentes. Elas não reagem de forma automática. Elas escolhem. E essa escolha consciente é a marca da maturidade emocional.

Em vez de se perguntar “como faço para parar de sentir isso?”, a pergunta passa a ser: “o que essa emoção está tentando me mostrar? O que eu posso fazer com ela de maneira que me ajude — e não que me sabote?”

Essa é a virada. Essa é a construção interna que transforma a forma de viver.

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