Autoestima não é se achar bonita: é se tratar bem quando se sente feia

A autoestima virou uma palavra desgastada. Está em todo lugar — nos comerciais de cosméticos, nas legendas de selfie, nas promessas de “seja sua melhor versão” — mas raramente é compreendida em sua profundidade.

Autoestima não é sobre se sentir maravilhosa todos os dias. Não é sobre olhar no espelho e sempre gostar do que vê. Autoestima é, acima de tudo, o modo como se trata quando não está se sentindo bem. Quando se sente feia, insegura, cansada, desvalorizada.

É fácil gostar de si quando se está num bom momento. Difícil é manter o respeito interno quando a crítica externa — ou a interna — começa a gritar. E é exatamente aí que mora o valor da autoestima verdadeira: no jeito como se responde a si mesma nos momentos de fragilidade.

A mulher que se trata com carinho mesmo quando não está no auge, que respeita seus limites mesmo quando sente que deveria “dar conta”, que não se diminui quando se sente vulnerável — essa sim tem uma autoestima sólida. Porque a autoestima não depende de beleza, de aprovação, nem de produtividade. Ela depende de autocompaixão.

Vivemos uma cultura que associa valor pessoal à performance estética e emocional. A mulher “bem resolvida” é aquela que sorri, que inspira, que está sempre em movimento. Mas essa exigência constante de alto astral esconde uma realidade perigosa: o culto à aparência de força pode virar um disfarce para o autoabandono.

É nesse ponto que muitas se perdem. Confundem autoestima com vaidade. Pensam que se cuidar é só manter o corpo em dia, a pele bonita, o cabelo hidratado. E claro, tudo isso pode ser uma forma de carinho consigo. Mas se for feito apenas para manter uma imagem, e não para sustentar um vínculo interno saudável, então é só mais uma cobrança disfarçada.

A mulher que tem autoestima verdadeira é aquela que se observa com respeito. Que reconhece suas falhas, suas inseguranças, suas fases ruins — sem se agredir. Ela não precisa estar sempre bem para se valorizar. Ela não precisa ser perfeita para se considerar digna de amor, inclusive o próprio.

E isso se aprende. A autoestima é construída em camadas. Começa com pequenas escolhas: como você se fala quando erra? Como se trata quando se sente feia? Como age quando ninguém está olhando?

É nesses momentos que se revela o relacionamento mais importante da vida: o que se tem com a própria consciência.

A autoestima não nasce de afirmações vazias repetidas no espelho. Ela nasce de ações coerentes. De cumprir promessas feitas a si mesma. De escolher o que faz bem mesmo quando o impulso é ceder ao velho padrão. De proteger-se de situações, pessoas e rotinas que alimentam o autoabandono.

Ela nasce quando se para de exigir amor de fora, e se começa a oferecê-lo de dentro. Quando se para de implorar aprovação, e se aprende a confiar na própria percepção. Quando se percebe que nem tudo precisa ser resolvido para que se possa viver em paz consigo mesma.

Não se trata de um estado permanente. Autoestima oscila. E está tudo bem. Mas quando ela é genuína, mesmo nas quedas, não se abandona. Não se violenta. Não se trai.

A mulher com autoestima não é imune ao sofrimento. Mas ela não se maltrata por sentir. Ela entende que cada emoção tem lugar. Que cada fase ensina. Que cada falha mostra um limite — e não um fracasso.

Se autoestima fosse sobre estar linda, rica e plena, só um grupo muito seleto de pessoas a teria. Mas ela está disponível para todas. E começa com um único gesto: tratar-se com a mesma gentileza que se daria a alguém amado.

No fim das contas, autoestima é isso: um tipo de lealdade interna que não se desfaz quando o mundo desaba.

Facebook
Twitter
Email
Print
Telegram
Threads
WhatsApp
Reddit