Não se cresce sem incômodo: o desconforto como parte da evolução

Crescimento pessoal não é confortável. Essa talvez seja uma das verdades mais ignoradas por quem está começando sua jornada de transformação. Existe uma expectativa quase mágica de que o autoconhecimento trará leveza imediata, paz constante e clareza em cada passo. Mas o que se esquece é que crescer implica, antes de tudo, em sair de onde está. E sair de onde se está costuma doer.

A mente humana tende a preservar o conhecido, mesmo quando ele já não serve mais. A zona de conforto, apesar do nome, muitas vezes não é confortável — é apenas familiar. E o familiar oferece a ilusão de controle. É por isso que mudanças profundas provocam medo, resistência, cansaço emocional. Não porque estão erradas, mas porque estão desinstalando padrões antigos que já estavam automatizados.

É comum ouvir relatos de pessoas dizendo: “Desde que comecei a olhar para mim, tudo parece mais difícil.” E é verdade. No início, é mais difícil. Porque tudo que estava adormecido começa a vir à tona. O que antes era escondido sob o piloto automático agora precisa ser encarado de frente: medos antigos, crenças limitantes, relacionamentos que já não fazem sentido, escolhas que já não se sustentam.

Esse desconforto não é um erro no processo. Ele é o próprio processo. É a alma se reorganizando. O desenvolvimento pessoal exige essa travessia: sair da ignorância confortável para a consciência desconfortável. Mas é essa consciência que, com o tempo, se transforma em liberdade.

É importante aprender a nomear esse desconforto. Nem todo mal-estar é fracasso. Nem toda dúvida é sinal de que algo está errado. O desconforto saudável tem uma marca: ele empurra para o novo. Ele obriga a questionar o que estava naturalizado. Ele convida a fazer diferente — mesmo que ainda não se saiba exatamente como.

Crescer também exige desapego. Há versões de nós que precisarão morrer para que outras possam nascer. E isso gera luto. Sim, desenvolvimento pessoal envolve luto. Não apenas por pessoas ou situações que se vão, mas por partes da própria identidade que já não servem mais. Aquela que aceitava migalhas. Que tinha medo de dizer não. Que se sabotava sempre que estava prestes a prosperar. Essa versão precisa ser acolhida, honrada — e deixada para trás.

O desconforto também revela o que precisa ser fortalecido. Aquilo que incomoda, que provoca, que desestabiliza, aponta onde ainda existe vulnerabilidade emocional. E isso é um presente. Porque só se pode curar o que se pode ver. Só se pode transformar o que se pode nomear.

Uma armadilha comum é tentar sair do desconforto rapidamente. Buscar soluções prontas, distrações, paliativos. Mas crescer é aguentar um pouco mais. É suportar o vazio entre a antiga e a nova identidade. É não se precipitar. É não fugir. O desconforto tem prazo. Ele não dura para sempre. Mas ele precisa ser vivido para cumprir sua função.

Desenvolver-se é, portanto, criar musculatura emocional. É parar de esperar que tudo fique fácil. E começar a cultivar recursos internos para lidar com a complexidade da vida. É aceitar que haverá dias de dúvida, de desânimo, de regressão. Mas que mesmo nesses dias, ainda se está no caminho.

Há uma nobreza no desconforto de quem está crescendo. Porque esse desconforto vem da coragem. A coragem de questionar, de recomeçar, de rever tudo. E é justamente essa coragem que diferencia quem muda de verdade de quem só muda de aparência.

Por isso, se neste momento você está se sentindo mais exposta, mais instável, mais confusa, celebre. Isso significa que você está se movendo. E movimento é vida.

Crescer não é mágico. Mas é sagrado. E mesmo que a travessia pareça longa, uma coisa é certa: ninguém chega ao próximo capítulo da vida sem antes encerrar o anterior. E isso — mesmo doendo — é lindo.

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