Não se posicionar também é uma escolha — e quase sempre custa caro

É comum pensar que o maior risco está em se posicionar. Que o confronto, a frustração do outro, o desgaste, o rompimento — tudo isso é consequência de uma postura firme. E é verdade. Posicionar-se pode, sim, ter um custo. Mas o que quase nunca se diz é que não se posicionar também é uma escolha. E, muitas vezes, custa muito mais caro.

Custa noites mal dormidas. Custa relações tóxicas mantidas por conveniência. Custa silêncios engolidos. Custa a própria identidade, diluída na tentativa de manter a paz externa enquanto a guerra interna aumenta.

Quando uma mulher escolhe calar o que sente, aceita o que a machuca ou deixa de se expressar para evitar conflito, ela está escolhendo não se posicionar. E essa escolha — ainda que aparentemente pacífica — está dizendo algo: está dizendo que o outro tem mais direito de existir do que ela. Que o desejo do outro importa mais. Que o desconforto do outro tem mais peso do que a sua verdade.

Essa é uma conta que parece barata no início, mas se acumula. A cada vez que se engole um não que queria ser dito, a cada vez que se sorri para manter aparências, a cada vez que se aceita algo que fere a alma, o corpo vai cobrando. O emocional vai adoecendo. A identidade vai se desintegrando.

E tudo isso por quê? Por medo. Medo de perder, de desagradar, de ser julgada, de não ser amada. O silêncio que nasce do medo é o mais caro de todos. Porque ele não preserva — ele esconde. Ele não fortalece vínculos — ele os torna superficiais. Ele não é nobreza — é anulação.

A mulher que não se posiciona vive em um terreno instável. Nunca sabe se pode falar, se pode existir inteira, se pode desagradar sem ser punida. Vive se moldando, se ajustando, se diminuindo. Vive esperando que os outros percebam o que ela sente, o que ela precisa, o que ela merece — sem que ela tenha coragem de dizer.

E essa espera é injusta. Porque ninguém tem obrigação de adivinhar. Se a mulher não se posiciona, ela está contribuindo para o próprio apagamento. E isso, ao longo do tempo, mina a autoestima, a clareza, a vitalidade. Torna-se uma mulher opaca. Alguém que cumpre papéis, mas não vive de verdade.

É por isso que posicionar-se não é uma opção para quando se estiver forte — é um caminho para se fortalecer. Não é algo que se faz depois de resolver tudo — é justamente o que ajuda a resolver. Porque o posicionamento organiza. Ele define limites. Ele delimita responsabilidades. Ele esclarece onde termina o outro e começa o seu espaço.

Claro que não é fácil. Principalmente para quem foi criada para agradar, para ceder, para manter a harmonia. O posicionamento, nessas condições, parece agressivo. Parece egoísta. Parece desamor. Mas é justamente o contrário: é o primeiro passo para amar de forma verdadeira — sem dependência, sem manipulação, sem medo.

E não é necessário começar com grandes rupturas. Posicionar-se pode começar pequeno: dizer não para aquele compromisso que já não cabe. Dizer que algo incomodou. Dizer o que realmente quer para o fim de semana. Dizer que não vai mais aceitar certas falas, certos toques, certas faltas.

A cada vez que a mulher se posiciona, mesmo que trema por dentro, ela envia um sinal para si mesma: “eu me respeito.” E esse respeito começa a moldar a realidade. Começa a transformar relações. Começa a atrair contextos mais saudáveis — porque o que se permite define o que se recebe.

É importante lembrar: não se posicionar é, sim, uma escolha. E como toda escolha, tem consequências. A diferença é que, ao se posicionar, a mulher assume o leme da própria vida. Ao não se posicionar, ela entrega esse leme nas mãos dos outros.

E muitas vezes, os outros não sabem conduzir. Ou conduzem para onde não se quer ir. Ou conduzem apenas com seus próprios interesses em mente. E então a mulher acorda, anos depois, sem saber como chegou ali. Em uma vida que não reconhece. Em um casamento que não a representa. Em uma rotina que a oprime. Tudo porque não escolheu — ou melhor, escolheu não escolher.

É doloroso reconhecer isso. Mas é também libertador. Porque se a omissão foi uma escolha, há poder para fazer outra escolha agora. Para começar a dizer o que se pensa. Para nomear o que se sente. Para colocar limites. Para reformular pactos. Para sair de lugares que adoecem. Para viver em um corpo que se sustenta em sua própria palavra.

E sim, isso pode causar perdas. Algumas pessoas se afastarão. Alguns vínculos não suportarão a mudança. Mas o que fica, depois do posicionamento, é sempre mais sólido. Mais limpo. Mais verdadeiro. Porque foi filtrado pelo critério do respeito.

A mulher que se posiciona vive menos cansada. Porque não precisa mais fingir. Porque não precisa mais suportar o insuportável. Porque não carrega mais a expectativa de que o outro adivinhe o que ela não teve coragem de dizer.

Ela passa a ocupar o próprio corpo com mais firmeza. A andar com mais presença. A respirar com mais leveza. Porque finalmente está vivendo como quem é — e não como esperavam que fosse.

Não se posicionar, portanto, é uma escolha que cobra um preço alto: o preço da integridade, da saúde, da autenticidade. Posicionar-se, mesmo que com medo, é a única maneira de honrar a própria existência.

E cada vez que uma mulher escolhe isso, ela acende um farol — não só para si, mas para todas que a observam em silêncio, esperando por um exemplo que autorize sua própria coragem.

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