Nos últimos anos, um discurso muito popular se espalhou com força: o da positividade a qualquer custo. Frases como “pense positivo”, “você atrai o que vibra”, “não foque no problema” se tornaram quase um mantra. E, embora tenham alguma utilidade, esse tipo de abordagem, quando usada de forma superficial, pode ser mais prejudicial do que benéfica.
Isso porque a vida real não é feita só de emoções agradáveis. Todo ser humano, por mais evoluído, espiritualizado ou consciente que seja, vai sentir raiva, tristeza, frustração, ciúme, medo. Esses sentimentos fazem parte da natureza humana. Negá-los não é evolução emocional — é desconexão.
Regulação emocional é o que permite conviver com as emoções difíceis de forma madura. Ela é mais importante que a positividade porque é ela quem garante que a mulher consiga atravessar os altos e baixos da vida sem se romper por dentro. Enquanto a positividade pode ser uma máscara, a regulação é uma estrutura. Ela sustenta. Dá contorno. Oferece base.
A mulher que tem regulação emocional não se desespera diante de um pensamento negativo. Ela o observa. Ela respira. Ela se pergunta o que está sentindo, por que aquilo veio, o que pode aprender com isso. E, com base nesse olhar honesto, decide como agir. Isso é infinitamente mais eficaz do que repetir uma frase positiva sem acreditar nela.
O problema da positividade tóxica é que ela cobra um tipo de perfeição emocional. E isso gera culpa. A mulher que está triste se sente errada por não estar “vibrando na alegria”. A que está cansada se sente fracassada por não estar “atraindo abundância”. E, nesse ciclo, o sofrimento emocional é invalidado — o que só o torna mais profundo.
A regulação emocional, por outro lado, acolhe. Ela permite dizer: “estou exausta hoje e tudo bem”, “estou com raiva e posso escolher como expressar isso”, “estou insegura, mas não sou menos por isso”. Ela tira o peso da performance emocional. E devolve à mulher o direito de sentir — e, ainda assim, continuar lúcida e consciente.
Sentir não é o problema. O problema é não saber o que fazer com o que se sente. E é justamente aqui que a regulação entra: como habilidade de escutar as emoções, identificar o que está por trás delas e responder de forma alinhada aos próprios valores.
Essa habilidade não nasce com ninguém. Ela é aprendida. E, muitas vezes, reaprendida. Porque fomos ensinadas a evitar desconforto, a disfarçar lágrimas, a engolir frustrações. O que a regulação faz é resgatar o direito de ser humana — e treinar a mente para lidar com isso com maturidade.
Um exemplo prático: uma mulher recebe uma crítica injusta. A positividade tóxica diria “ignore, pense positivo, eleve sua vibração”. A regulação emocional diria: “isso me afetou, estou sentindo raiva e injustiça, preciso acolher esse sentimento, entender o que ele quer me dizer e depois escolher a melhor forma de me posicionar”. Veja a diferença. Uma nega, a outra sustenta. Uma cala, a outra constrói.
Isso vale para todas as áreas da vida. Em relacionamentos, por exemplo, a mulher regulada emocionalmente não explode nem se anula. Ela observa. Ela nomeia o que sente. Ela dá um tempo se precisar. Mas ela volta à conversa com clareza — e não para vencer, mas para construir.
No trabalho, a regulação permite lidar com frustrações sem se sabotar. Permite receber feedbacks sem se sentir um fracasso. Permite tomar decisões difíceis sem se paralisar. E, principalmente, permite manter a energia vital mais estável, sem picos de euforia seguidos de quedas emocionais.
É claro que a positividade tem seu lugar. Há momentos em que pensar de forma otimista ajuda. Há situações em que reverter o foco mental é necessário. Mas isso só funciona quando a base está sólida. Quando a emoção já foi validada, acolhida, compreendida. Senão, vira maquiagem em cima de ferida aberta.
A mulher emocionalmente madura não se força a sorrir quando quer chorar. Ela chora — e depois se recompõe. Ela se permite sentir medo — e depois age com coragem. Ela aceita que vai errar — e ainda assim segue em frente. Essa é a força da regulação: ela permite ser inteira, mesmo nos dias quebrados.
E isso é especialmente importante no mundo de hoje, em que as redes sociais criam uma vitrine de perfeição emocional. A mulher que acredita que precisa estar sempre bem se sente sozinha quando sente algo diferente. Por isso, falar sobre regulação é também uma forma de criar pertencimento. De lembrar que é normal oscilar. Que é humano cair. Que é possível sentir tudo — e, ainda assim, continuar.
Para desenvolver regulação emocional, é preciso criar uma rotina de escuta interna. Pode ser através da escrita, da meditação, da terapia, do movimento corporal. O importante é cultivar momentos de conexão com o que se sente. E, a partir daí, construir respostas mais conscientes.
Regulação também envolve linguagem. A forma como se fala consigo mesma nos momentos difíceis faz toda a diferença. Em vez de “que idiota eu fui”, tentar “eu fiz o melhor que pude com o que sabia”. Em vez de “não posso me sentir assim”, tentar “é compreensível que eu me sinta assim”. Palavras curam — ou ferem. E regular é também escolher como se fala internamente.
Outra prática importante é a pausa. Muitas vezes, reagimos sem regular porque não damos tempo. Uma respiração profunda pode ser o divisor de águas entre um impulso destrutivo e uma resposta sábia. A pausa cria espaço para o eu adulto assumir o comando.
E, por fim, é preciso lembrar: regular não é suprimir. É canalizar. É dar direção. É não se afogar na emoção, mas também não se desligar dela. É nadar com presença. Com consciência. Com escolha.
Esse é o caminho da mulher que se cuida de verdade. Que não finge estar bem. Que não se obriga a ser o que não sente. Mas que, mesmo sentindo tudo, escolhe o que vai fazer com isso.
Essa mulher é forte. Porque sua força não vem da negação, mas da verdade. Não vem da positividade forçada, mas da regulação lúcida. E é essa força que sustenta o equilíbrio. Que constrói relações mais saudáveis. Que cria um estilo de vida mais coerente. E que transforma o caos em consciência.